Relicário
Francisco Leiro, António Olaio, Pedro Proença, Pedro Tudela
Inauguração Sábado, 9 Julho, 16h00
12 a 30 Julho e 1 a 17 Setembro | Encerra durante Agosto
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Colectivas - sazonais (fim de época), temáticas (comissariadas por críticos), diálogo (mínimo 2 artistas), pós eventos (artistas que num passado recente participaram num mesmo evento, como uma feira ou bienal), lançamento de novos talentos e provavelmente muitas outras, poderão passar pela cabeça de qualquer galerista que esteja vivo, queira continuar a trabalhar, necessite de fazer algum honesto pecúlio.
Pessoalmente não serei o mais fervoroso adepto de colectivas em galerias, daí ter organizado muito poucas durante a minha carreira. Reconheço no entanto, que certas exposições deste tipo apresentadas esporadicamente, com a devida parcimónia, poderão trazer valor acrescentado aos fruidores, entusiasmo aos organizadores e artistas representados, desde que transmitam alguma singularidade ao conceito a que presidem.
Como poderia ter sido atribuída a uma histórica coleccionadora do princípio do século passado a frase, “uma colectiva é uma colectiva é uma colectiva!” Um conceito simples que se define em si próprio.
Ideias simples que poderão no entanto presidir a conceitos fortes.
Uma ideia relativamente simples: fazer coincidir numa pequena mostra quatro artistas que de algum modo tenham contribuído para os inícios do percurso histórico dos 21 anos deste espaço e dos 26 que já levo como galerista.
Para o efeito de relevar o carácter intimista, reservou-se as 2 primeiras salas da galeria. A última sala, a grande, ficou desta vez fechada na penumbra da sua espectacularidade como antro proibido à presença de pequenas pérolas.
Artistas aqueles, que passaram pela galeria a partir dos idos 80 e seguiram o seu caminho (sem ressentimentos), ou que ainda se mantêm comigo, (obrigado). Mas todos eles grandes artistas cujas obras agora apresentadas e recontextualizadas, suscitarão alguma surpresa para os que só mais tarde tiveram acesso visual à sua produção mais recente. Para os mais antigos fruidores tornar-se-á, espero eu, uma agradável viagem no tempo, porventura causadora de carinhosas emoções.
Porém, se analisarmos em sentido mais lato o porquê desta mostra, gostaria de vos remeter para algumas questões ou estados de alma que me são muito chegados tais como o nobre sentido de coleccionar.
Pode-se coleccionar de várias formas e com diversas finalidades. Por mera paixão, por investimento ou conciliação entre os dois, nostalgia do passado como antiguidades, arte moderna e contemporânea, objectos vintage, design ou até caixas de fósforos, asas de borboletas e tudo o mais que nos der satisfação ao ego.
A pura paixão por belos objectos, o sentido de posse por algo que passou por outras mãos em épocas diferentes, o mero investimento, ou a conciliação e conjugação de vários destes factores não serão finalidades de mera displicência. Em qualquer destas situações um facto é garantido. É bom guardar coisas. É confortante vê-las colocadas nos muros e vitrinas do interior dos nossos pequenos castelos, fascinante revê-las após tempos guardadas nos baús antigos, ou modernos armazéns climatizados. Mostrá-las com certeza àqueles que connosco melhor as sabem apreciar, compartilhar, mas também aos mais novos que já se perfilam nos percursos da verdadeira curiosidade, consciencializando-os para a importância daquelas, enquanto bens patrimoniais transmissíveis, de geração em geração.
Eu também gosto de guardar. Colecciono muitas coisas. Objectos diversos que pela sua singularidade poderão ser de duvidoso óbvio a outros olhos, mas emocionalmente muito representativos para mim, pequenas antiguidades, peças vintage e design e por razões afectivas e de percurso profissional bastante arte contemporânea.
Convictamente misturo tudo. As coisas belas quando são belas, dão-se bem umas com as outras. Podem estabelecer diálogos perfeitos e estimular energias latentes.
Dedico esta pequena exposição relicário aos que sabem guardar coisas, aos que superiormente as souberam criar e ao tempo, que na sua sábia patine, as fez preservar, para deleite da nossa memória colectiva.
Espero repetir na próxima temporada, convidando outros artistas que por aqui passaram deixando o seu carinhoso toque de Midas, alargando-a a comissários que se possam interessar por esta ideia convertendo-a quem sabe, numa verdadeira peça de colecção?
Os meus especiais agradecimentos aos artistas Francisco Leiro, António Olaio, Pedro Proença e Pedro Tudela que abnegadamente contribuíram para os inícios do meu percurso de galerista e me dão agora a oportunidade de retribuir, relevando assim a sua pertença ao património histórico desta galeria
Pedro Oliveira
Julho 2011