domingo, 15 de maio de 2011

Exposição Mas Não Estava Lá Ninguém Para ver de Alexandre A. R. Costa na Galeria Extéril de 21 de Maio a 2 de Julho



Inauguração: Sábado 21 MAI - 22h
21 MAI 2011 - 02 JUL 2011
Instalação - Performance - Conversa com o artista

A Galeria Extéril apresenta
“Mas não estava lá ninguém para ver” - instalação
uma exposição individual do artista
Alexandre A. R. Costa.

Performance intitulada “Passeio contemporâneo”
(implicada no resultado da própria obra apresentada) acontecerá no momento da inauguração, sendo a mesma transmitida em directo, via Skype, numa extensão do Festival de Arte da Performance - Line Up Action de Coimbra, evento que acontecerá em parceria com a Cooperativa de Teatro dos Castelos, e que inaugura em Montemor-o-Velho nessa mesma noite de 21 de Maio.

A. R. Costa (Braga, 1973) tem privilegiado uma actividade que opera nos mais diversos territórios e linguagens da arte, porém, é frequente vermos a instalação como proposta principal, acumulando fracções ou gerando um “todo” expositivo, articulando-se esse sistema por vezes com a performance. O seu trabalho preocupa-se igualmente com a experiência, o diálogo e a relação com os espaços de exposição e os seus sistemas organizativos. A. R. Costa assume uma posição “parcelada” (do artista e da sua prática), ou seja, é a partir da complexidade de uma definição do lugar do artista e da arte dos nossos dias que ele gera uma conduta estimulante não-linear, ou “não-especialista” por vários territórios e linguagens. Surgem, através deste processo, acidentalidades experimentais (desde o plano físico ao intelectual), numa procura de liberdade ou indeterminação do lugar da arte. Nesta aparente desorganização, ele levanta questões aos modelos de funcionamento, controlo e poder nos âmbitos contemporâneos do discurso da especialização, da produção, ou do próprio sistema artístico e outros interdependentes, como o político, o tecnológico, o científico ou o cultural.


Mas não estava lá ninguém para ver
ou enquanto se constrói uma história dos artistas
Alexandre A. R. Costa
(Bolseiro Doutoramento, Fundação para a Ciência e Tecnologia)
Pontevedra, Maio, 2011

“Mas não estava lá ninguém para ver”
é um fragmento de uma frase do livro de Steven Weinberg: Os primeiros três minutos do Universo. A intencionalidade desta apropriação e a sua utilização como título da exposição, não pretende lançar a dúvida especulativa sobre probabilidades evolucionistas, criacionistas ou outras quanto ao início do universo, ou no limite procurando isomorfismos, como, quando e de onde surgimos nós e a própria arte. Prende-se antes, e em parte, com a revelação da ideia de dúvida, de incerteza implicada na dificuldade de imaginarmos o grau de energia e velocidade presente no momento do Big Bang. Esta teoria sugere-nos imaginar uma expansão cosmológica em menos de um segundo e a partir de um ponto mais pequeno do que uma partícula sub-atómica.
A questão que se levanta é a de que o nosso universo de matéria/energia surge supostamente de um “nada”, ou melhor, de um pequeníssimo falso vácuo. O indivíduo contemporâneo confronta-se cada vez mais com um conhecimento do real que se vai revelando mais complexo do que poderíamos imaginar. Terão estes pressupostos científicos, associados à circunstância de nenhum ser humano ter estado presente nesse momento único, consequências para um processo de reflexão, não só da ciência, da filosofia ou da teologia, como também para um processo teórico-prático da arte dos nossos dias? De onde vem a matéria e a energia com que trabalhamos e vivemos? O que acontece de seguida? Quem explora, e de que forma, esta energia? Quais os objectivos destes intervenientes? E no sistema da arte contemporânea, como tudo isto acontece? De acordo com a segunda lei da termodinâmica, a entropia aumenta sempre no Universo, resultando num “congelamento” final, a morte térmica ou o designado: big freeze... Entretanto, a vida acontece (tal como a conhecemos neste planeta) e cá estamos nós, ainda que apenas numa fracção de tempo minúscula comparativamente com os estimados cerca de 140 mil milhões de anos desde o acontecimento que originou tudo isto.
Com o ser humano, surge a história dos conceitos como “arte”, “política”, “filosofia” ou “ciência”, e surge também a capacidade de relativizar ou dar mais ou menos importância a determinados acontecimentos e pessoas, criar cúmplices e cumplicidades, desenvolver a produção de discurso sobre tudo e sobre nada, considerar a existência da consciência, dos critérios, das regras e hierarquias, da organização e das organizações, dos sistemas de controlo e poder... e da mediação e especulação sobre o que é ou não “liberdade”. A par de uma necessidade epistemológica condicional a estas competências do indivíduo, o humano tem a necessidade de conhecimento generalizado sobre o real; os artistas fazem-no através da arte e de todas as formas físicas e intelectuais que dela resolvem fazer parte por diversos factores e necessidades. O nosso real é a nossa prática neste momento em que vivemos, que mergulha nos discursos (de outras práticas), apropria-se e trabalha por cima desses, e os apresenta reorganizados, com uma outra autonomia discursiva. Sim, claro que é importante compreendermos e registarmos o legado do passado, para que possamos entender este real, este presente, por isso tentamos compreender as origens de tudo isto, numa pesquisa que se vai tornando mais complexa, à medida que a informação se acumula e carece de uma maior clareza precisamente ao nível dos discursos, das propostas.
Transportando-nos até a esta contemporaneidade da prática artística, e especialmente focando a atenção nesta exposição/instalação que encontra a Galeria Extéril como local de apresentação – um espaço “à margem do circuito institucionalizado de apresentação artística”, vamos encontrar uma relação de entendimento sobre a génese dos projectos com estas características de funcionamento, da sua (des)regulação ou processos de autonomia, de diversos mecanismos de confrontação entre: a ideia de história (como algo construído) versus o real e o seu registo non-stablishment, das manipulações ou regulações sistémicas (como coisa falsa) versus asilo, abrigo ou esconderijo (como mecanismo de protecção, local de resistência e guerrilha), etc. A intervenção neste espaço chama-se “Mas não estava lá ninguém para ver” por tudo isto e outras questões que neste texto não cabem, mas também poderia ter-se chamado “Enquanto se constrói uma história dos artistas”, em ambos os casos, denota-se a ideia de uma decepção perceptível que age assumidamente como parte do jogo. (Optei, porém, por não utilizar este segundo título por questões relacionadas com uma intencional focalização dispersiva; no entanto, aqui fica a nota).
Confrontando-se com a ideia do Big Bang, desse vácuo falso e da não-existência de um olhar testemunhal do ser humano nesse momento singular, a exposição/instalação apresentada na Galeria Extéril ganha possibilidades de leituras para o subjectivo, o imaginável, para a arte, revelando-se criticamente nesse território outros conceitos inerentes ao funcionamento dos mecanismos de poder como: perversão, construção, regra ou manipulação. A inevitabilidade desse suposto primeiro momento “explosivo” e sem público, que origina o expandido, o desordenado, o variável, lembra-nos do risco e da capacidade do desejo e ego do ser humano na construção de uma “paisagem” contemporânea, por onde possa assinalar a sua presença. A contemporaneidade em “suspensão” mostra-se-nos complexa, entre a expansão com um aumento de velocidade e uma zona de fracasso onde os processos de verificação são eles mesmos circunstanciais e fruto de factores e regras inerentes a esses mecanismos de poder, de controlo. É rigorosamente na possibilidade de uma análise crítica e de reformulação permanente deste território (em risco absoluto) que surge esta “Mas não estava lá ninguém para ver”. A transgressão do sentido dialéctico e das fronteiras materiais/físicas, pode dar-se nessa “zona” que é aparentemente validada, e onde encontra uma outra, dúbia mas real. Apresenta-se aí, como modelo, uma desmistificadora “imprevisibilidade” em diálogo e confronto.


Mini-biografia (do artista):
Alexandre A. R. Costa (Braga, 1973)
vive e trabalha actualmente em Pontevedra e Porto
http://alexandrearcosta.com/

Actividade

Artista e Comissário - Desenvolve uma actividade transversal entre a prática artística contemporânea e a curadoria.
Membro fundador e responsável pela programação de artes visuais e performativas do projecto programático Artemosferas / Cluster criativo - Espaço Artes Múltiplas I.A.C. Porto (2001-2003).
Director do projecto I.M.A.N. - arte contemporânea (2005 - presente).
Docente do ensino superior (Escola Superior de Tecnologia e Gestão e Escola Superior de Educação - IPVC), encontrando-se actualmente na qualidade de Bolseiro da F.C.T. para o desenvolvimento de Tese de Doutoramento, em Espanha.

Estudos

Desenvolve actualmente a sua tese de Doutoramento com o título: “A prática artística contemporânea entre a entropia e a auto-regulação” com orientação de Javier Tudela.
Curso do programa de Doutoramento da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Vigo [2004], obtendo o Diploma de Estudos Avançados de Doutoramento - D.E.A. [2005] com o projecto: “Flexibilidade e transmutação da arte como projecto contemporâneo insubordinado ao sentido”.
Pós-Graduação - [Master of Arts research programme] com uma investigação em torno das “Site specific & Public Art Practices at Visual Arts Higher Education”, Surrey-Roehampton University, em Londres [2003].
Licenciatura em Artes Plásticas – Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto [1994-1999].
Escola Artística Soares dos Reis, Porto.

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