segunda-feira, 21 de março de 2011

Glória ou Como Penélope Morreu de Tédio no Teatro Carlos Alberto de 25 de Março a 3 de Abril


Em Glória ou Como Penélope Morreu de Tédio ressoam temas e personagens da epopeia grega, mas este projecto olha de frente para a psicopátria lusa. Chega-nos com aquele sentido de urgência que caracteriza grande parte da novíssima dramaturgia portuguesa, território em expansão de onde emerge o nome de Cláudia Lucas Chéu, actriz que se tem aventurado na pele de autora e encenadora. Neste solo a várias vozes interpretado por Albano Jerónimo, colocam-se em tensão aspectos do modo atávico de ser português – a transmissão do medo, a paralisia da espera, a recusa do luto –, espécie de variação crítica do mito de D. Sebastião feita a partir de personagens inspiradas na Odisseia de Homero. Há uma figura, Pathos, que compõe um hino dedicado à espera da mãe, e esse filho e essa mãe poderiam chamar-se Telémaco e Penélope, condenados a desesperar pelo regresso de Ulisses a Ítaca, de onde partiu para combater na guerra de Tróia. Em Glória, a espera é um bem precioso que convida ao silêncio e à reflexão, mas é também um prejuízo, porque é o compasso vazio entre o passado (as memórias vividas) e o futuro por vir que idealizamos nas nossas cabeças.

___________

Este projecto foi escrito para ir a cena. Este projecto fala da espera, mas não quer fazer-se esperar. Fala também da não-inscrição, mas quer com toda a certeza inscrever-se no panorama teatral nacional. É a oportunidade de reflectir sobre a possibilidade de podermos desacelerar, num mundo que circula cada vez mais veloz e se consome de forma descartável. Esperar o tempo certo para que a fruta ou o vinho amadureçam, tornando-os especiais de reserva; e de como isto se transfere para as relações humanas. Em Glória, queremos também reflectir sobre o porquê de cada vez mais não nos inscrevermos na sociedade e de como isso se espelha no discurso e no corpo de quem vive aqui e agora. Segundo José Gil (filósofo português residente em Paris), os portugueses não fazem o luto e com isto prolongam ad nauseam a espera, como se as coisas não estivessem realmente inscritas no presente, mas se inscrevessem em alguma coisa que ainda está para vir. Subscrevendo totalmente esta ideia, escrevi Glória.
Cláudia Lucas Chéu


texto e encenação Cláudia Lucas Chéu

espaço cénico e figurinos Ana Limpinho

espaço sonoro Vítor Rua

desenho de luz Nuno Meira

realização e edição vídeo Sérgio Graciano

...direcção de fotografia Miguel Manso

assistência de encenação Solange Freitas

interpretação Albano Jerónimo

participação especial Daniel Ferreira/Diogo Freitas; Grupo de Teatro Comunitário As Avozinhas de Palmela (direcção Dolores Matos)

co-produção AJ Produções, TNDM II, TNSJ








Sem comentários:

Enviar um comentário